Michel Temer iniciou pela política o ciclo de mudanças que promete implementar. O presidente interino executa uma revolução nos costumes políticos. Governos anteriores suavam para produzir os seus próprios escândalos. Temer incorpora à sua gestão, sem nenhum esforço, escândalos que já vêm prontos. Um deles, Romero Jucá, foi acomodado no Ministério do Planejamento.
Nesta sexta-feira, Jucá protagonizou uma cena inusitada. Ao lado do ministro Henrique Meirelles (Fazenda), concedeu uma entrevista sobre o rombo de R$ 170,5 bilhões detectado no orçamento da República. Discorria sobre os rigores que o governo planeja impor aos gastos públicos quando um repórter esfregou-lhe na face uma indagação sobre um dos inquéritos em que é investigado por suspeita de desviar verbas públicas.
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, determinara a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Jucá no período de março de 1988 a dezembro de 2002. Nessa época, Jucá enfiou dentro do Orçamento da União emendas que destinavam verbas à prefeitura de Cantá, município de Roraima. Em troca, o prefeito superfaturava licitações e repassava parte das verbas para Jucá, acusa a Procuradoria.
“Estou muito tranquilo”, disse Jucá, antes de repetir um raciocíno que adotou como bordão: “Estamos numa democracia. Qualquer servidor público, qualquer pessoa pode ser investigada. Não há nenhum demérito em ser investigado. O demérito é ser condenado. Do presidente da República ao mais simples auxiliar, qualquer um pode ser investigado.”
O caso da cidade de Cantá não é isolado. Jucá responde a sete inquéritos no STF, dois referentes à Lava Jato. Um relativo à Operação Zelotes. Na véspera, o procurador-geral Janot pedira no Supremo a abertura de mais um inquérito contra Jucá e outros três senadores do PMDB: Renan Calheiros, Valdir Raupp e Jáder Barbalho. Suspeita-se que receberam propinas na obra da hidrelétrica de Belo Monte.
Como afirma Romero Jucá, “qualquer um pode ser investigado”. O que espanta é a facilidade com que qualquer um vira ministro. O titular do Planejamento está na bica de virar réu no STF. Nada que preocupe o presidente interino Michel Temer, que acaba de nomear para o posto de líder do governo na Câmara o deputado André Moura (PSC-SE), réu em três ações penas por desvio de verbas públicas e investigado em outros três inquéritos —um deles por tentativa de homicídio.
Com informações do Josias de Souza.
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