Em um raro momento em que resolveu abandonar sua formalidade contumaz, Michel Temer rebateu de imediato “e com certa ironia” a provocação de um aliado que disse não saber por que brigara tanto para chegar ao comando do Planalto. “Nem eu sei”, respondeu o presidente.
É nos bastidores que Temer tem feito o balanço mais íntimo do seu primeiro ano de governo. No gabinete presidencial desde 12 de maio de 2016, passou a reclamar de isolamento, disse acreditar que seria mais fácil governar e fez uma analogia ao uso de tornozeleiras eletrônicas para falar da falta de liberdade para ir a lugares públicos.
Não que ele quisesse. De personalidade séria e reservada, o presidente tem centralizado cada vez mais o trabalho e, mesmo com os mais próximos, trata de poucos assuntos além da política.
Aliados admitem que, após o impeachment de Dilma Rousseff, ele assumiu a presidência com uma expectativa de céu de brigadeiro, ancorado no apoio maciço do Congresso para fazer avançar uma agenda legislativa robusta.
Passado um dos 2 anos e 7 meses em que ficará à frente do Planalto, porém, Temer fez avançar boa parte das pautas no Congresso, mas viu escândalos levarem do governo homens de sua confiança, junto com a queda de sua popularidade, hoje em 9%.
Desde o início de sua gestão, Temer perdeu sete ministros e seu melhor amigo, José Yunes, que teve que deixar o cargo de assessor especial da Presidência após ser citado na Operação Lava-Jato. A saída que mais irritou o presidente, entretanto, não teve a ver com as investigações da Petrobras. Temer saiu do sério no caso de Geddel Vieira Lima, então ministro da Secretaria de Governo que tentou pressionar um colega de Esplanada para liberar um empreendimento na Bahia de seu interesse pessoal.
Segundo relatos, Temer chegou a enviar emissários para convencê-lo a se afastar do posto e evitar que a crise se estendesse por vários dias, o que acabou ocorrendo. Para evitar mais desgaste político – além da citação ao próprio Temer, oito ministros são investigados pela Lava-Jato –, o presidente adotou duas estratégias: dar mais protagonismo para a equipe econômica, que tem o respaldo do mercado, e aumentar a aproximação com Congresso, fortalecendo seu próprio poder de articulação.
A primeira ainda colhe resultados modestos. Apesar da queda dos juros e da inflação, a economia não mostra sinais de melhora substancial. A segunda rendeu apoio de parlamentares para a aprovação do limite para os gastos federais, as reformas do ensino médio e trabalhista e, mesmo com as concessões, fez seguir adiante a reforma da Previdência, que o presidente considera o maior desafio de sua vida pública.
No privado, Temer surpreende auxiliares quando os recebe aos fins de semana com camiseta de manga curta, calça jeans ou até moletom. É nesses momentos que aliados se lembram que o chefe consegue relaxar ao assistir a seriados como “The Americans”, “House of Cards” e “Designated Survivor”.
O comentário sobre o último, que trata de um político que assume o comando dos Estados Unidos de forma inusitada, mostra que a obsessão de Temer é uma só: “Interessante é ver o cara se fortalecendo na Presidência”. (Folhapress)
Nenhum comentário:
Postar um comentário