A classe política brasileira “fracassou e os casos revelados nos últimos dias no País apontam que a corrupção não tem ideologia, é sistêmica e estrutural”. Quem faz o alerta é José Ugaz, presidente mundial da entidade Transparência Internacional, principal referência internacional no combate à corrupção.
Em entrevista ao Estado, Ugaz sai em defesa dos procuradores brasileiros, insistindo que eles estão provando ser independentes e derrubando a tese de que haveria uma caça às bruxas contra um determinado partido ou tendência política.
Ugaz ganhou prestígio internacional ao ser o procurador que investigou Alberto Fujimori, no Peru. Eis os principais trechos da entrevista:
P – Como o sr. avalia o pedido de abertura de inquérito contra o presidente, num momento crítico como vive o Brasil?
R – Ele demonstra que a Justiça está agindo com neutralidade e total independência. É, no fundo, um exemplo para o mundo. Procuradores e toda a equipe estão se mostrando extremamente profissionais.
P – Um dos elementos da nova onda de delações aponta para o fato de que partidos de diferentes tendências foram beneficiados por recursos. O que isso revela?
R – Isso deixa claro que, no Brasil, a corrupção não tem ideologia. Isso é verdade também em outras regiões. Acadêmicos sobre essa questão chegam a comparar a corrupção ao vírus do HIV, que atinge a todos, sem distinção de status social, de onde eles vem ou ideologia.
P – Por meses, o PT insistiu que a operação Lava Jato era uma perseguição contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Qual sua avaliação sobre isso?
R – É uma ação contra todos os lados. O discurso de que era uma caça às bruxas no PT ou no entorno de Lula não se sustenta. E isso vale para o restante da América Latina também. Os indícios no caso da Odebrecht apontam para o governo de esquerda de Nicolas Maduro. Mas também para o governo de direita da República Dominicana.
P – E no Brasil, o que todos esses escândalos revelam?
R – Revelam que a corrupção era histórica, sistêmica e estrutural.
P – E como essa realidade minou o sistema democrático?
R – A Lava Jato e as demais investigações mostram que, quando o dinheiro entra na política dessa forma, ela distorce o serviço público.
P – E o que fazer agora?
R – A investigação precisa ir às ultimas consequências. Não existe outra saída. Uma vez concluída a investigação e a punição aos responsáveis, o sistema democrático precisa ser reconstruído para evitar que, no futuro, essa realidade não se repita. A classe política brasileira fracassou e não está à altura do que precisam fazer. Agora, é apostar em grupos e pessoas que defendam a ética, as alternativas.
P – Quais medidas concretas precisam ser tomadas?
R – Transparência total de gastos públicos e da forma pela qual partidos são financiados, auditorias e monitoramento constante.
Agência Estado.
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