Eduardo Cunha é, hoje, um dos políticos mais detestados do país. A pesquisa mais recente do Datafolha mostrou que 85% dos brasileiros querem que seu mandato seja passado na guilhotina. A Câmara marcou para a noite desta segunda-feira o tão esperado momento. O encontro de Cunha com o cadafalso ocorre quase um ano depois da abertura do processo de cassação, em 13 outubro 2015. É o mais longo processo da história da Câmara.
Deve-se a demora às infindáveis manobras protelatórias adotadas por Cunha —artimanhas facilitadas por uma rede de proteção tecida com os laços monetários que unem o acusado a dezenas de deputados. De repente, inverteu-se a relação custo-benefício. As urnas municipais ameaçam cobrar um preço alto pela devoção ao profano. E as enquetes jornalísticas começaram a revelar que já se formou maioria a favor da interrupção da amnésia combinada que faz de Cunha um ser inimputável.
Os deputados não têm alternativa —ou param de agir como se nada tivesse sido descoberto sobre Cunha ou param de fingir que representam os eleitores. Se optarem por qualquer solução diferente da perda do mandato, estenderão um tapete vermelho para que o Supremo Tribunal Federal conclua o serviço que iniciou ao arrancar Cunha da linha sucessória da República, afastando-o da presidência da Câmara e suspendendo o exercício do seu mandato.
Eleito presidente da Câmara depois que Cunha renunciou ao posto, há dois meses, Rodrigo Maia disse que só levará a cassação a voto se houver em plenário a maciça presença de pelo menos 420 dos 513 deputados. Bastam 257 votos para aprovar uma cassação. A margem de segurança idealizada por Rodrigo Maia dá uma ideia do pânico que hipótese de Cunha se safar ainda provoca. Imagine-se, por exemplo, os danos que uma eventual falta de quórum causariam.
No processo da Câmara, Cunha é acusado de mentir aos colegas sobre sua condição de correntista oculto de bancos na Suíça, algo que configura a quebra do decoro parlamentar. Entretanto, assim como sucedeu com Dilma Rousseff, Cunha está sendo avaliado pelo conjunto de sua obra, que inclui o recebimento de propinas milionárias do petrolão. Não importa a modalidade do resgate. Livrando a cara de Cunha por ação ou omissão, a Câmara entraria em autocombustão.
Permitir que Cunha volte a circular pelos corredores da Câmara é o mesmo que lançar um movimento intitulado ‘Fora, Povo!’ Ficaria entendido que a elite parlamentar brasileira considera-se mais inteligente e ética do que o resto da população. Mais: para dar certo de verdade, o Brasil precisaria trocar de povo. Esse que está aí é de péssima qualidade. Não consegue entender que a desonestidade com fins comerciais não justifica a incivilidade de uma punição.
Por Josias de Souza.
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