O presidente Michel Temer começou a montar uma estratégia de guerra, de tudo ou nada, desde a metade de junho, quando a denúncia contra ele foi apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pressionado, o presidente avisou aos aliados que não renunciaria ao cargo e iniciou uma extensa agenda de audiências, almoços e jantares com parlamentares. Nos dois meses seguintes, explodiu a liberação de emendas parlamentares, autorizando gastos de R$ 4 bilhões, cerca de 65% do valor anual.
Ex-presidente da Câmara por três vezes, Temer seguiu trabalhando por sua vitória até os últimos minutos, recebendo deputados em seu gabinete até na hora da sessão. Depois de almoçar com mais de 100 deputados da bancada ruralista e receber uma lista de deputados, o presidente foi na noite de terça-feira em jantar na residência do vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG). Manteve o compromisso, mesmo tendo sido informado de que os dois elevadores do prédio haviam quebrado e que teria de subir seis lances de escada até o quinto andar.
Ao chegar no apartamento, Temer foi saudado aos gritos e aplausos pelos deputados que o aguardavam. O jantar contou com a presença de cerca de 40 deputados, além do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). O presidente disse aos aliados, nos 30 minutos de conversa, que estava “confiante” sobre a votação e reclamou de ser alvo de “banditismo pessoal”, numa crítica ao comportamento do empresário Joesley Batista.
A ofensiva contou ainda com uma “invasão” de dez ministros que deixaram suas pastas na quarta-feira e reassumiram seus mandatos para votar com o governo. O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), era a tradução da mais absoluta tranquilidade no plenário desde cedo. Sentado na ponta direita do plenário, na segunda fileira, conversava calmamente com correligionários e se dava ao luxo de não atender ligações telefônicas, até mesmo de colegas de governo, como o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE). Os ministros desempenharam um papel de protagonismo na busca por votos.
Imbassahy circulou com um caderno com uma lista de emendas embaixo do braço. Deputados da oposição testemunharam diversos pedidos de parlamentares por cargos prometidos em troca de votos a favor de Temer. E não só emendas e cargos foram usados pelos ministros em plenário para tentar ampliar o apoio ao presidente denunciado por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Parte deles reforçou o discurso da necessidade de se gerar crescimento e estabilidade econômica.
O ministro da Secretaria de Governo negou que tenha sido usada a liberação de emendas parlamentares para garantir apoios a Temer. Ele destacou que o pagamento das emendas passou a ser impositivo por mudança feita na Constituição nos últimos anos e pediu à sua assessoria uma lista com todos os empenhos e a apresentou a alguns parlamentares em plenário. Segundo ele, a lista foi trazida justamente para mostrar que não há distinção.
O ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE), também foi a campo em busca de votos. Conhecedor dos meandros das votações, travou conversas com vários parlamentares. Mas, assim como os demais ministros, negou que tenha recebido pedidos de ajuda:
— Isso é no gabinete, onde os parlamentares vão para apresentar seus pleitos habitualmente, isso é normal, aqui não. Vim para dar meu voto.
Os ministros eram cercados por parlamentares nos corredores com os mais variados pedidos paroquiais. Muitos queriam promessa de agilizar pedidos nos ministérios, como liberação de projetos de suas bases eleitorais. A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), que atuou de forma firme dentro do PTB para garantir os votos, disse que esteve com Temer para falara da PEC que aumenta a participação das mulheres na política. Além disso, ela brincou que é uma ferrenha defensora de Temer e sua cota de emendas liberadas estava bem mais baixa do que de outros parlamentares.
— Só R$ 4 milhões. Sou ferrenha defensora aqui, no Plenário, vou lá reclamar com Imbassahy — brincou Cristiane Brasil.
SORTE COMEÇOU A MUDAR NA CCJ
Temer começou a mudar sua sorte nas manobras adotadas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), quando os partidos aliados trocaram parlamentares e garantiram a derrubada do parecer do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) no último dia 13, e a escolha justamente de um tucano — o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) — para fazer o parecer vencedor, contrário à denúncia. A manobra constrangeu aliados que queriam trair o governo e mostrou que o presidente não recuaria.
Ao final, os aliados comemoravam aliviados, afirmando que o presidente atual da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atuou de forma responsável e como um aliado.
Por Agencia O Globo.
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