Uma casa entre oliveiras e laranjeiras, a um minuto a pé da praia, impregnada com cheiro de mar.
A célula terrorista que matou 14 pessoas na Espanha na última quinta-feira (17) preparava seu arsenal de explosivos neste impensado endereço, em uma área afastada do povoado de Alcanar.
O grupo foi desmantelado, segundo o governo espanhol, mas o principal suspeito ainda segue foragido.
Alcanar está a duas horas de Barcelona. Um vilarejo sem grandes atrativos, para além da praia e da fábrica de cimento. Mas se tornou notícia, por parecer ser uma peça-chave das investigações.
Os militantes que atropelaram pedestres em Barcelona e Cambrils invadiram uma casa abandonada há alguns meses e, ali, manipularam dezenas de cilindros de gás butano e TATP, material explosivo tão volátil que é apelidado “a mãe de Satã”.
A construção explodiu acidentalmente na meia-noite de quarta-feira (16). As autoridades acreditam que, assustados e já sem seu arsenal, os terroristas decidiram antecipar seu atentado.
Eles atropelaram pedestres em Barcelona e Cambrils no dia seguinte. Dos 14 mortos, 13 estavam na capital catalã.
Cinco dos militantes morreram também na ação de Cambrils. A polícia deteve outros quatro, mas acredita que o motorista da van de Barcelona –seu principal suspeito– está foragido.
Trata-se do marroquino Younes Abouyaaqoub, 22, provavelmente o líder da célula estimada em 12 pessoas pelo governo da Catalunha, região nordeste da Espanha.
A polícia tinha considerado em um primeiro momento que o motorista era Moussa Oukabir, 17, mas depois determinou que ele foi morto na ação de Cambrils. Morreram também Said Aallaa, 19, e Mohamed Hychami, 24.
É possível, ainda, que dois terroristas tenham morrido na explosão de Alcanar, o que ainda não foi provado.
Entre mortes e detenções, o ministro espanhol do Interior, Juan Ignacio Zoido, disse neste sábado que a célula foi “desmantelada”. O governo regional catalão, porém, contestou a avaliação e disse que faltam “dois ou três” suspeitos a deter.
A facção terrorista Estado Islâmico reivindicou os ataques a Barcelona e Cambrils, justificados como atentados contra “cruzados e judeus”.
SEM SENTIDO
A polícia cercou os entornos na casa em Alcanar e, no sábado, realizou uma série de explosões controladas.
Assustados pelas explosões de quarta, os moradores do bairro já tinham deixado suas casas. Mas Nuria Gil, 50, ficou. Ela mora ali desde 1998 e, na quarta, ouviu um barulho que descreveu como “trovoada”. Foram duas explosões. “Ouvi ‘bum!’ e, depois de alguns segundos, outra vez ‘bum'”, conta Gil.
A empresária do ramo do esporte diz nunca ter visto os suspeitos, nem imaginado que a explosão pudesse ter sido causada por terrorismo.
“Em junho celebrei uma festa com amigos na piscina, champanhe, enquanto eles preparavam bombas. É uma coisa sem sentido”, afirma.
Gil perdeu temporariamente a audição no ouvido esquerdo e um dos vidros de sua casa se rompeu. Ela se senta agora na varanda, próxima ao mar, e espera o momento em que a polícia virá para lhe pedir informações.
GEOGRAFIA
Os atentados de quinta-feira (17) se espalharam por toda a geografia da região catalã. Os militantes preparavam as bombas em Alcanar, mas viviam em Ripoll, a 100 quilômetros de Barcelona – onde atropelaram pedestres. Houve um ataque também em Cambrils, distante dali.
A polícia realizou uma série de buscas em Ripoll também no sábado, vasculhando o apartamento de um imã, um título dado para um líder religioso no islã.
Apesar das buscas e da sensibilidade do momento, o governo espanhol decidiu manter seu nível de alerta no número quatro, em uma escala que chega até o cinco. Isso significa que não são esperados ataques iminentes, mas a segurança de grandes eventos vai ser reforçada. Isso inclui as partidas de futebol em Barcelona.
As autoridades já identificaram 13 das 14 vítimas. Somadas aos 130 feridos, elas representam 34 diferentes nacionalidades, incluindo espanhóis, alemães, italianos e americanos. Não há informações sobre brasileiros. (Folhapress)
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