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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Programa de benefícios revela mais uma fonte de fraudes na Petrobras.

Um programa de compra de remédios na Petrobras se tranformou em mais uma fonte de fraudes. Até cachorro teve a conta da farmácia bancada pelos cofres da empresa.
Há 10 anos, a Petrobras tem um programa de benefício em que paga ou reembolsa a compra de medicamentos dos funcionários. Funcionava desta maneira: o funcionário ia até uma farmácia conveniada, apresentava a receita médica e o cartão do programa de saúde da Petrobras. A farmácia enviava a conta para uma empresa contratada pela estatal para administrar o programa, e o custo era repassado pela Petrobras. Pela regra, o funcionário só poderia comprar remédios para si mesmo e seus dependentes, que ganhavam números de registro próprios no programa.
Por mês, o gasto médio da Petrobras apenas com esse benefício era de R$ 20 milhões. Em setembro do ano passado, a estatal mudou o modelo do benefício, para tentar economizar. Uma nova empresa, chamada Global Saúde, assumiu a administração. A contratada passou a receber um valor fixo de R$ 15 milhões e deveria olhar muito bem os pagamentos do benefício, para economizar o máximo possível e assim, ter lucro.
O resultado foi impressionante: em apenas seis meses, a nova empresa encontrou mais de 13 mil receitas fraudulentas, muitas notas em branco, sem data, até mesmo sem o nome do médico.
A empresa denunciou a fraude para a secretaria de controle externo de estatais do Tribunal de Contas da União. Segundo Ricardo Gabin, chefe de gabinete do relator do processo no TCU, o programa apresentava vulnerabilidades: "Um programa altamente sujeito a fraudes, né? A gente imagina que o funcionário precisa apenas ir a uma farmácia credenciada com uma receita médica, obter o medicamento que, supostamente, ele precisa".
No dia 27 de julho do ano passado, um mesmo beneficiário, com o mesmo número de registro, fez nove compras. Às 9:22 em Candeias, na Bahia. Apenas seis minutos depois, às 9:28, outra compra foi feita em Angras dos Reis, no RJ. Às 9:35, mais uma compra - em Salvador. E em seguida, no RJ novamente e em SP. Depois, no RJ, em Aracaju, outra no RJ e, por último, em Salvador.
A reportagem conversou com a dona do cartão usado nessas compras, a aposentada Dulce dos Fernandes Pereira, de Salvador:
REPÓRTER - Apareceu no dia 27, segundo o TCU, num mesmo dia, a senhora comprando remédios em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Aracajú, em nove cidades diferentes.
DULCE - Não, de maneira alguma. Inclusive já tem mais de três anos que eu não viajo.
O TCU suspeita que o nome dela pode ter sido usado sem o conhecimento da aposentada. O benefício é pessoal e intransferível. O nome da receita deve ser o mesmo do cartão do programa. 
O Fantástico foi atrás de casos que chamaram a atenção do TCU. Tem caso de homem que comprou remédio para amamentação. E o de uma mulher, que usou o programa da Petrobras para comprar o medicamento Tamsulan - indicado para tratamento de problemas na próstata.
O caso mais impressionante ocorreu em Curitiba, no Paraná. A receita de uma clínica veterinária foi usada em uma farmácia, também pelo programa da Petrobras. O nome do paciente, indicado na receita é Iza. É a cachorra de Vanessa Silva, esposa de um funcionário da Petrobras. A reportagem conversou com Vanessa:
VANESSA - Ah, eu não quero gravar.
REPÓRTER - Eu quero, porque é uma reportagem que diz que você comprou remédios para o seu cachorro usando o programa de farmácia da Petrobras. O programa é para beneficiar você, né?
VANESSA - Mas é que faz parte da minha família, e é pra comprar remédio. Se eu tenho esse desconto, eu tenho direito de ter o desconto em remédio.
Todas elas parecem fraudes pequenas. Mas juntas, criam um rombo enorme. E, como tudo na Petrobras, os números são gigantescos. O programa é para 300 mil pessoas. O gasto mensal é de mais de R$ 20 milhões. E o cálculo é que 30% disso são compras fraudadas de remédios - um rombo de mais de R$ 6 milhões por mês.
Em setembro do ano passado, quando o TCU recebeu as denúncias, foi determinado que a Petrobras interrompesse o programa. O gasto diminuiu, mas provocou um efeito colateral:  os beneficiários agora precisam comprar os medicamentos, e pedir o reembolso apenas quando o programa for retomado.
O aposentado pela Petrobras Fred Nicolai esá desanimado: "Quanto mais aumenta isso aqui [mostra as contas], menos esperança nós temos de que vamos receber, né?"
REPÓRTER -  Quanto o senhor acredita que gasta. por mês, em remédios que não estão sendo reembolsados?
FRED - Por baixo, assim, acredito que em torno de R$ 500. Eu acredito que já tenha em torno de R$ 5 mil.
O TCU calcula que a Petrobras já deva R$ 200 milhões para os beneficiários. Nesta semana o órgão vai julgar se a estatal deve encerrar o programa, ou criar novos mecanismos de controles para estas compras. "Da parte da Petrobras, não existe nenhum tipo de controle", afirmou Ricardo Gabin.
Em nota, a Petrobras afirmou que tomará todas as medidas legais cabíveis para a reparação e compensação de danos, além de eventuais ações de improbidade administrativa.
Se a auditoria do TCU comprovar as fraudes, os funcionários envolvidos podem perder os cargos e serem obrigados a ressarcir a Petrobras.
Com informações do http://g1.globo.com

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